quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Resiliência

Bela noite de lua
Dizimada pelo terror
De um despertador
Que encerra outro sonho
Antes do desfecho
Resmunga
Demora no banho
Último conforto
Antes de partir

O sol já vai quente
Acende um cigarro
Seu café da manhã.
Caminha correndo
De pau duro no metrô
Às sete da matina
Atrasado de novo
O ódio transborda
Antes do meio-dia

Engole calado
Telefone que toca
Decote comportado
Piada sem graça
Comida requentada
Violência constante
Tesão maltratado
A cabeça longe
Muito longe

Um trago arranha a noite
O corpo esquenta
Câmera acelera
Vertigem
Pernas começam a tremer.
Copos quebrados
Bitucas no chão
Todos sorriem
Como se gostassem de você

Só se fala de amor escondido
Eu quero você
Não, eu quero você
Pensando melhor
Acho que quero você.
A voz da mente
Gritando estridente
Planos mirabolantes
Há tanto por vir

Pelas madrugadas
Flertando com a morte
Pouca inteligência
Mas fé tem de sobra.
Rouba para vencer
Reza o terço sujo
Faz tua mandinga
Você não vai morrer
O caminho é longo

Responde mal
Implora para dormir
Parece tão triste
De onde vem tanta raiva?
Discute até tarde
Sozinho no quarto
Você vai destruir
Tudo ao redor
Está perdido agora.

Chora escondido
Esperneia por dentro
Vira outro gole
Desaba.
Todos estão sempre sorrindo
O problema deve ser você
Tem que ser você!
Mas, você
Você não vai morrer

Abandona
Os que realmente te amam
Revira o lixo
De quem não te quer por perto
Vagueia por aí
Aprenda a mentir
Endureça
Um homem tem que ser forte
Quanto mais frio melhor

Acorda
Desce em Acari
Volta
Tenta de novo
Ninguém nunca viu
O que transita em ti
Você inventa melhor
Quando abraça o desespero
Será o bastante?

Refaz:
Bela noite de lua
Dizimada pelo terror
De um homem arruinado
Segurando a mão
De quem quer que seja
Olhe fundo em seus olhos
E minta uma vez mais
Está perdida agora

O corpo dela
Pairando ao seu lado
Na cama molhada
De suor.
No peito o peso aliviado
Feche os olhos
Adormeça
Você não vai morrer
O caminho é longo.